Poesias

Por Lúcia Tina

 

Sua Sombra

Não foi a luz no fim do túnel

que me fez seguir adiante

Foi sua sombra, sua beleza

Reflexo da luz distante

Frágil luz de vela

Bastou uma brisa e se apagou

E a pista de quem você seria

também ela levou

Você ficou...

No escuro te amei

Mas eu queria a sombra

que na imaginação criei

Segui meu rumo a céu aberto

Sem túnel, sem vultos

Sentimentos ocultos, incertos

E no claro do dia pude ver

Que sua sombra é melhor que você

Foi quem ficou na lembrança

Deixando a esperança, meu bem,

De um dia a luz do sol fazer dela

o reflexo de outro alguém.

 

Casinha

No vento que entrou

pelo azul das janelas

Em mim brotou

Inúmeras “elas”

A advogada sorriu

A poetisa cantou

A compositora nasceu

A escritora realizou

A mãe acolheu

A vida mudou...

A mulher venceu.

Casinha!

Capa do livro de uma linda história.

Tantos momentos na memória

Samba, sorrisos

Acordos, litígios

Vinhos, amigos

O “estar só” destemido

Fechei um ciclo

Para abrir outro

Casinha!

Fizemos da poeira, ouro!

Hoje fecho as janelas

Levo em mim... Elas!

Meu maior tesouro.

 

CEP: Te amo

Como é linda essa estrada

Minha melhor viagem

Fui sem mala, nem nada

Só amor e ingenuidade

Tempo de cartas escritas

Telefone com fio

Descobertas infinitas

Calores no frio

O olhar era o começo

Sorrisos de mãos dadas

Um lugar que não tem preço

Onde o tudo era o nada

Um dia voltarei

Desta vez, de malas prontas

E, com rugas, amarei

Sem mais crer em faz de conta

Um amor sem carnaval

É no simples que arrepia

Pois o sol não é plural

E traz luz todos os dias

 

Nem Santa, Nem Solta

Já fui santa

E nada disso adianta

Já fui solta

O que nada acrescentou

O cabelo

Enfeitei com a rosa branca

Seu olhar é que me conta

E descobre quem eu sou

Nem santa

que me priva de prazer

Nem solta

sem limite pra viver

Num sorriso

Suspirei a esperança

De um dia ser eu mesma

E ser livre com você

 

Pequena Gigante

Sou pequena no universo

E na grandeza de meu verso

Sou maior do que o sol e a lua

Me sinto Gabriela nua

Viro estrela, viro flor

Sou o que eu quiser

Crio até um grande amor

Sou gigante, sou mulher

 

Diga Hoje

Pai

De quem já não tenho a mão

o carinho, a opinião... E que, de supetão, censurou meu coração, me impedindo de dizer aquilo que tanto esperei.

Aguardei o tal “momento certo e a hora certa” para escolher as melhores palavras e agradecer ao pai poeta por tudo o que fez por mim.

Mas não é assim... o tempo me traiu

Ele partiu.

A poesia guardada me vestiu e, sem perceber, a vida me fez seguir seus passos.

Hoje, como mulher, sem seus abraços, sou seu reflexo, errei seus erros, sozinha, em atropelos.

Acertos pelo avesso.

Aprendi a lição que, para ele, um dia escrevi:

Obrigada por sermos iguais

Sua herança, meu melhor defeito

Esse atrapalhado amor no peito que hoje grito e, em letras no papel, repito

O que, em música, chega ao céu:

Meu enorme amor não dito!

 

Dia do Abraço

O laço de fita

em volta do corpo

Que sente a batida

do peito do outro

Silêncio que grita:

Fica mais um pouco!

Quem diria...

O mundo está louco

Virou utopia

Um simples conforto.

 

O Vagão

O cartaz dizia ‘siga’

Fui com a multidão

Na estrada sem saída

Era pra ter dito não

Tanta gente, assim, seguiu

Sem levar o coração

Eu te vi, você sorriu

Ao me ver na contramão

Num olhar, eu disse vem

Estendi a minha mão

Convidei para o trem

Rumo a outra direção

Num piscar, você sumiu

Em guarda-sóis da razão

E o trem, enfim, partiu

Eu, a sós, em meu vagão

 

Sonhe

Levantar, para quê?

Dia chuvoso, tristonho

De pé não sei viver

O que, na cama, sonho

Assim, criarei um conto

Debaixo do meu cobertor

No fim, sem ponto

Viverei um grande amor

Acordarei morta e feliz

Por amar na ilusão

Por curar a torta cicatriz

Que marcou meu coração

 

Miopia

A paisagem que vejo

Não é a mesma que a sua

Seu amor, meu desejo

Seu desejo, ter-me nua

Meu horizonte não desvia

Apronto-me para o que vier

O seu, termina em um dia

No corpo de uma mulher

 

Asas

Paz

Do sol, a sombra

desenha o chão

Com asas, me vejo

Feliz solidão

Mas,

nem tudo se faz sozinha

Ainda resta um desejo

Na boca que é só minha

Sinto falta do seu beijo

 

Brisa De Quarentena

Deito no sofá

Flores de jacquard

Em cores de carmim

Meu lar

Meu jardim

Brisa de ventilador

O sopro leva a dor

A fé ecoa

Meu lar

Minha proa

Banho é meu mar

Tempestade no ar

Em mim, atraco

Meu lar

Meu barco

 

Cale

- É amor

- Que nada! É paixão, vai passar. Amor de verdade não te faz chorar

- É amor

- Esquece isso, nem demorou. Mal o conhece e já diz que é amor.

- É amor

- Não vai dizer que não te avisei. Nunca sofri, mas também nunca amei.

 

Nós, A Cada Eu A Sós

Fui me traindo para não te trair

E te iludindo, sorri

Por dentro, morri

Por isso, só te falei

o que a vida decidiu

Nosso amor, de malas, partiu

Sobre a cama deixou esta carta

que a gente não viu

E o ‘nós’, de cada eu a sós,

se despediu.

 

Goste-se

Gosto de gostar de mim

Sozinha me resolvo

Leio um livro, qdo acaba,

leio um novo

Escrevo sentimento

Penso

Aprendo instrumentos

Penso

Meu corpo, exploro

Penso

Cartola... Adoro!

Penso

E pensando, crio

Criando, vivo

Assim...

Vou descobrindo a que vim

No egoísmo do eu

Criei a melhor obra:

Gostar de mim!

 

Amor Em Gotas

Só fechando algumas portas

Pude abrir tantas outras

Guardei histórias mortas

Em milhões de frases tortas

Me chamaram até de louca

Verdades foram poucas

O amor virou freguês

Novas portas em frases soltas

Na taça, amor em gotas

Eu faria tudo outra vez.